segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

MULHERES ENCONTRAM APOIO PARA NÃO COMETER ABORTO

Dom Joaquim Justino Carreira

Dom Joaquim, bispo de Guarulhos, salienta que a Igreja quer acolher e reconciliar as pessoas com Deus e os irmãos.    

Ao se encontrarem sozinhas, desprezadas e angustiadas diante de uma gravidez não planejada, algumas mulheres pensam que o aborto é uma saída. Mas o aborto não só mata uma vida indefesa, como também “mata por dentro os que praticam tal ato”. É o que acredita o membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom Joaquim Justino Carreira.

“A vida humana é um dom de Deus para a pessoa concebida e para a pessoa que tem um ser humano dentro do seu seio. Nós não somos donos da vida dos outros, somos protetores e por isso não podemos de forma alguma eliminar sumariamente a vida de ninguém”, salienta Dom Joaquim.

Mas que outras opções uma mulher tem ao se ver sozinha a espera de um filho? Um novo projeto implantado agora na Arquidiocese de São Paulo dá aconselhamento e amparo para mulheres em situações vulneráveis, incentivando que elas tenham seus filhos.

O Centro de Ajuda a Mulher (CAM) funciona na sede da Comunidade Unidos em Cristo, na Cidade de São Paulo, Bairro Santana, à Rua Dr. Gabriel Piza, nº 566, próximo à Estação Santana do Metrô.

O CAM oferece cursos de artesanato e capacitação para que as mães tenham condições de trabalhar e sustentar seus filhos. Mas se mesmo assim elas não puderem criá-los, o projeto aconselha que elas os coloquem para a adoção.

“O atendimento pode iniciar-se por telefone e continuar com a presença da pessoa no Centro de Atendimento. Existem diversas parcerias e voluntários preparados para acolher, esclarecer e ajudar as pessoas em suas necessidades concretas. Tudo se fará em defesa da vida da mãe e do filho que está em seu seio”, explica Dom Joaquim.

O telefone do CAM é o (11) 2099 0602 e o contato também pode ser feito por emailprojetocam.saopaulo@gmail.com.

Perdão e restauração

Mulheres que passaram pela dolorosa experiência da rejeição de uma gravidez encontram apoio também no Projeto Raquel para recuperar-se dos estragos físico, psicológicos e espirituais e restaurar-se como pessoa.

“A recuperação nesses três aspectos poderá ocorrer em etapas diferentes; por exemplo: o físico é logo depois recuperado, o psicológico e espiritual têm tempos próprios e é diferente para cada mulher. Restaurar é um processo intenso que envolve a pessoa como um ser bio-psico-espiritual, e essa é a proposta do projeto Raquel”, esclarece Eneida Carmona, fundadora da Comunidade Unidos em Cristo, que, além deste projeto, também está comprometida com o CAM.

Eneida e seu esposo Luiz Carmona, ambos fundadores da Comunidade Unidos em Cristo, afirmam que a experiência profissional mostra que a restauração de uma pessoa precisa ocorrer nessas três dimensões.

O contato com o Projeto Raquel pode ser feito pelo email  projetoraquel.saopaulo@gmail.com e/ou pelo telefone (11) 2579 4175

A missão da Igreja não é excluir, mas incluir. Como explica Dom Joaquim, não é a Igreja que excomunga uma pessoa, mas ela mesma, a partir de um ato, se coloca em excomunhão.

“A Igreja só afirma esta verdade dizendo que este ato é abominável e destrói a criança, a pessoa que aborta e a sociedade. O trabalho desenvolvido em favor das pessoas que estão nesta situação de separação é para reconciliá-las com Deus e com os irmãos”, salienta o bispo.

A responsável pelo CAM ressalta que este processo é uma reconciliação também consigo mesma.

Nicole Melhado/Canção Nova Notícias/Arquivo

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Que Deus é este?

"Em Auschwitz, no Gulag ou em Darfur, vê-se, sem dúvida, a dimensão trágica da liberdade: a escolha do Mal. E isso quer dizer, sim, a renúncia a Deus. Mas também se assiste à dramática renúncia ao homem"


Especial Artigo Reinaldo Azevedo Veja 24.12.2008

Boa parte das nações e dos homens celebra, nesta semana, o nascimento do Cristo, e uma vez mais nos perguntamos, e o faremos eternidade afora: qual é o lugar de Deus num mundo de iniqüidades? Até quando há de permitir tamanha luta entre o Bem e o Mal? Até Ele fechou os olhos diante das vítimas do nazismo em Auschwitz, dos soviéticos que pereceram no Gulag, da fome dizimando milhões depois da revolução chinesa? E hoje, "Senhor Deus dos Desgraçados" (como O chamou o poeta Castro Alves)? Darfur, a África Subsaariana, o Oriente Médio... Então não vê o triunfo do horror, da morte e da fúria? Por que um Deus inerme, se é mesmo Deus, diante das "espectrais procissões de braços estendidos", como escreveu Carlos Drummond de Andrade? Que Deus é este, olímpico também diante dos indivíduos? Olhemos a tristeza dos becos escuros e sujos do mundo, onde um homem acaba de fechar os olhos pela última vez, levando estampada na retina a imagem de seu sonho – pequenino e, ainda assim, frustrado...
Até quando haveremos de honrá-Lo com nossa dor, com nossas chagas, com nosso sofrimento? Até quando pessoas miseráveis, anônimas, rejeitadas até pela morte, murcharão aos poucos na sua insignificância, fazendo o inventário de suas pequenas solidões, colecionando tudo o que não têm – e o que é pior: nem se revoltam? Se Ele realmente nos criou, por que nos fez essa coisa tão lastimável como espécie e como espécimes? Se ao menos tirasse de nosso coração os anseios, os desejos, para que aprendêssemos a ser pedra, a ser árvore, a ser bicho entre bichos... Mas nem isso. Somos uns macacos pelados, plenos de fúrias e delicadezas (e estas nos doem mais do que aquelas), a vagar com a cruz nos ombros e a memória em carne viva. Se a nossa alma é mesmo imortal, por que lamentamos tanto a morte, como observou o latino Lucrécio (séc. I a.C.)? Se há um Deus, por que Ele não nos dá tudo aquilo que um mundo sem Deus nos sonega?
Galeria Doria Pamphilj/divulgação
Vida e arte
As cenas das mulheres de Darfur fugindo com suas crianças, empurradas pela barbárie, remetem, é inevitável, à fuga de Maria e do Menino Jesus para o Egito, retratada por Caravaggio (1571-1610)
Evito, leitor, tratar aqui do mistério da fé, que poderia, sim, responder a algumas perplexidades. O que me interessa neste texto é a mensagem do Cristo como uma ética entre pessoas, povos e até religiões. Não pretendo, com isso, solapar a dimensão mística do Salvador, mas dar relevo a sua dimensão humana. O cristianismo é o inequívoco fundador do humanismo moderno porque é o criador do homem universal, de quem nada se exigia de prévio para reivindicar a condição de filho de Deus e irmão dos demais homens. É o fundamento religioso do que, no mundo laico, é o princípio da democracia contemporânea. Não por acaso, a chamada "civilização ocidental" é entendida, nos seus valores essenciais, como "democrática" e "cristã". Isso tudo é história, não gosto ou crença.
Falo das iniqüidades porque é com elas que se costuma contrastar a eventual existência de uma ordem divina. Segundo essa perspectiva, se o Mal subsiste, então não pode haver um Deus, que só seria compatível com o Bem perpétuo. Ocorre que isso tiraria dos nossos ombros o peso das escolhas, a responsabilidade do discernimento, a necessidade de uma ética. Nesse caso, o homem só seria viável se isolado no Paraíso, imerso numa natureza necessariamente benfazeja e generosa. O cristianismo – assim como as demais religiões (e também a ciência) – existe é no mundo das imperfeições, no mundo dos homens. Contestar a existência de Deus segundo esses termos corresponde a acenar para uma felicidade perpétua só possível num tempo mítico. E as religiões são histórias encarnadas, humanas.
Em Auschwitz, no Gulag ou em Darfur, vê-se, sem dúvida, a dimensão trágica da liberdade: a escolha do Mal. E isso quer dizer, sim, a renúncia a Deus. Mas também se assiste à dramática renúncia ao homem. Esperavam talvez que se dissesse aqui que o Mal Absoluto decorre da deposição da Cruz em favor de alguma outra crença ou convicção. A piedade cristã certamente se ausentou de todos esses palcos da barbárie. Mas, com ela, entrou em falência a Razão, humana e salvadora.
Fé e Razão são categorias opostas, mas nasceram ao mesmo tempo e de um mesmo esforço: entender o mundo, estabelecendo uma hierarquia de valores que possa ser por todos interiorizada. As cenas das mulheres de Darfur fugindo com suas crianças, empurradas pela barbárie, remetem, é inevitável, à fuga de Maria e do Menino Jesus para o Egito, retratada por Caravaggio (1571-1610) na imagem que ilustra este texto – o carpinteiro José segura a partitura para o anjo. As representações dessa passagem, pouco importam pintor ou escola, nunca são tristes (esta vem até com música), ainda que se conheça o desfecho da história. É o cuidado materno, símbolo praticamente universal do amor de salvação, sobrepondo-se à violência irracional que o persegue.
Nazismo, comunismo, tribalismos contemporâneos tornados ideologias... São movimentos, cada um praticando o horror a seu próprio modo, que destruíram e que destroem, sem dúvida, a autoridade divina. Mas nenhum deles triunfou sem a destruição, também, da autoridade humana, subvertendo os valores da Razão (afinal, acreditamos que ela busca o Bem) e, para os cristãos, a santidade da vida. Todas as irrupções revolucionárias destruíram os valores que as animaram, como Saturno engolindo os próprios filhos. O progresso está com os que conservam o mundo, reformando-o.
Pedem-me que prove que um mundo com Deus é melhor do que um mundo sem Deus? Se nos pedissem, observou Chesterton (1874-1936), pensador católico inglês, para provar que a civilização é melhor do que a selvageria, olharíamos ao redor um tanto desesperados e conseguiríamos, no máximo, ser estupidamente parciais e reducionistas: "Ah, na civilização, há livros, estantes, computador..." Querem ver? "Prove, articulista, que o estado de direito, que segue os ritos processuais, é mais justo do que os tribunais populares." E haveria uma grande chance de a civilização do estado de direito parecer mais ineficiente, mais fraca, do que a barbárie do tribunal popular. Há casos em que é mais fácil exibir cabeças do que provas. A convicção plena, às vezes, é um tanto desamparada.
Este artigo não trata do mistério da fé, mas da força da esperança, que é o cerne da mensagem cristã, como queria o apóstolo Paulo: "É na esperança que somos salvos". O que ganha quem se esforça para roubá-la do homem, fale em nome da Razão, da Natureza ou de algum outro Ente maiúsculo qualquer? E trato da esperança nos dois sentidos possíveis da palavra: o que tenta despertar os homens para a fraternidade universal, com todas as suas implicações morais, e o que acena para a vida eterna. O ladrão de esperanças não leva nada que lhe seja útil e ainda nos torna mais pobres de anseios.
O cristianismo já foi acusado de morbidamente triste, avesso à felicidade e ao prazer de viver, e também de ópio das massas, cobrindo a realidade com o véu de uma fantasia conformista, que as impedia de ver a verdade. Ao pregar o perdão, dizem, é filosofia da tibieza; ao reafirmar a autoridade divina, acusam, é autoritário. Pouco afeito à subversão da autoridade humana, apontam seu servilismo; ao acenar com o reino de Deus, sua ambição desmedida. Em meio a tantos opostos, subsiste como uma promessa, mas também como disciplina vivida, que não foge à luta.
Precisamos do Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror. Sem essa certeza, Darfur – a guerra do forte contra o indefeso, da criança contra o fuzil, do bruto contra a mulher –, uma tragédia que o mundo ignora, seria ainda mais insuportável.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Discurso de Bento XVI aos teólogos



Audiência
Sala dos Papas -Palácio Apostólico do Vaticano 
Sexta-feira, 02 de dezembro de 2011


 
Senhores cardeais,
Venerados irmãos no Espiscopado
Ilustres professores e professoras, caros colaboradores!


É com grande alegria que acolho-vos na conclusão da anual sessão Plenária da Comissão Teológica Internacional. Gostaria de exprimir, antes de tudo, um um agradecimento pelas palavras que o Cardeal William Levada, na qualidade de presidente da Comissão, dirigiu-me em nome de todos. Os trabalhos desta sessão coincidiram com a primeira semana do Advento, ocasião que nos faz recordar como todo teólogo é chamado a ser homem do advento, testemunha da espera vigilante, que ilumina as vias da inteligência da palavra que se fez carne.

Podemos dizer que o conhecimento do verdadeiro Deus se volta e se nutre daquela 'hora', que nos é desconhecida, na qual o Senhor voltará. Ter essa vigilância e vivificar a esperança da espera não são, portanto, um objetivo secundário para um reto pensamento teológico, que encontra a sua razão na Pessoa daquele que vem ao nosso encontro e ilumina o nosso conhecimento da salvação. 

Hoje tenho o prazer de refletir novamente convosco sobre os três temas que a Comissão Teológica Internacional está estudando nos último anos. O primeiro está relacionado a questão fundamental de toda reflexão teológica: a questão de Deus e em particular a compreenssão do monosteísmo. A partir desse amplo horizonte doutrinal aprofundastes também um tema de caráter eclesial: o significado da Doutrina Social da Igreja, reservando depois, uma atenção particular a uma temática que hoje é de grande atualidade para o pensamento teológico sobre Deus: a questão do status da teologia hoje, nas suas prospectivas, nos seus principios e critérios.

Atrás da profissão da fé cristã no Deus único, se encontra a cotidiana profissão de fé do povo de Israel: "Escuta, Israel, o Senhor e o nosso Deus, único Deus é o Senhor" (Dt 6,4). O excepcional cumprimento da livre disposição do amor de Deus direcionada a todos os homens, se realizou na encarnação do Filho em Jesus Cristo. Em tal revelação da intimidade de Deus e da profundidade da sua ligação de amor com o homem, o monoteísmo de Deus único se iluminou com uma luz completamente nova: a luz trinitária. E no mistério trinitário, se ilumina também a fraternidade entre os homens. 

A teologia cristã, junto com a vida dos fiéis, deve restituir a feliz e cristalina evidência da comunidade da revelação trinitária. Apesar dos conflitos etnicos e religiosos no mundo tornar mais dificil acolher a singularidade do pensar cristão de Deus e do humanismo que se inspira nele, os homens podem reconhecer no Nome de Jesus Cristo a verdade de Deus Pai para o qual o Espirito Santo clama diante de cada gemido das criaturasA teologia, em fecundo diálogo com a filosofia, pode ajudar os fiés a tomar consciência e a testemunhar que o monosteímo trinitário é a verdadeira fonte da paz pessoal e universal.O ponto de partida de toda teologia cristã é o acolhimento desta revelação divina: o acolhimento pessoal do verbo feito carne, a escuta da Palavra de Deus na Sagrada Escritura. Sobre tal base de partida, a teologia ajuda a inteligência fiel da fé e sua transmissão. 
 
Toda a história da Igreja mostra que o reconhecimento do ponto de partida não basta para chegar à unidade da fé. Cada leitura da Bíblia se coloca necessariamente em um determinado contexto de leitura, e o único contexto no qual o fiel pode estar em plena comunhão com Cristo é a Igreja e sua Tradição viva. Devemos viver sempre novamente a experiencia dos primeiros discípulos que eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e na oração.
 
Nessa prospectiva, a comissão estudou os princípios e critérios segundo os quais uma teologia pode ser católica e também refletiu sobre a contribuição atual da teologia. É mportante recordar que a teologia católica, sempre atenta a ligação entre fé e razão, teve um papel histórico no nascimento da Universidade. Esse papel é hoje mais que necessário, para tornar possivel uma sinfonia das ciências e para evitar as derivas violentas de uma religiosidade que se opõe à razão e de uma razão que se opõe à religião.

A Comissão Teológica estuda ainda a relação entre a Doutrina Social da Igreja e a Doutrina cristã. O compromisso da Igreja não é somente algo humano, nem mesmo com uma teoria social. A transformação da sociedade operada pelos cristãos durante os séculos é uma resposta à vinda no mundo do Filho de Deus:  explendor de tal Verdade e caridade ilumina toda cultura e sociedade. São João afirma: "Nisso conhecemos o amor; no fato que ele nos deu sua vida por nós, portanto, também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos". Os discipulos de Cristo redentor sabem que na atenção ao outro, no perdão, no amor também aos inimigos, nenhuma comunidade humana pode viver em paz; e isso começa na primeira e fundamental sociedade que é a família. 
 
Na necessária colaboração em favor do bem comum também com quem não partilha da mesma fé, devemos fazer presentes os verdadeiros e profundos motivos religiosos no nosso compromisso social, assim como esperamos dos outros que nos manifestem as suas motivações, a fim que a colaboração se faça com clareza.Quem perceber os fundamentos do agir social cristão poderá também encontrar um estímulo para levar em consideração a mesma fé em Jesus Cristo.
 
Caros amigos, o nosso encontro confirma em modo significativo o quanto a Igreja tenha necessidade da competente e fiel reflexão dos teólogos sobre o mistério do Deus e Jesus Cristo e de sua Igreja. Sem uma sã e vigorosa reflexão teológica, a Igreja cairia no risco de não exprimir plenamente a harmonia entre fé e  razãoAo mesmo tempo, sem a fiel vivência da comunhão com a Igreja e a adesão ao seu magistério, como espaço vital da própria existência, a teologia não conseguiria dar uma adequada razão do dom da fé.
 
Transmito através de vós o encorajamento a todos os irmãos e irmãs teólogas que estão espalhados nos vários contextos eclesiais, invoco sobre vós a intercessão de Maria, Mulher do Advento e Mãe do Verbo encarnado, a qual é para nós paradigma do reto teologar, o modelo sublime do verdadeiro conhecimento do Filho de Deus. Seja ela, a estrela da Esperança a guiar e proteger o precioso trabalho que desenvolveis para a Igreja e em nome da Igreja. Com esses sentimentos de gratidão, vos renovo a minha benção apostólica.
 

Boletim Sala de Imprensa da Sana Sé
(Tradução: Mirticeli Medeiros - equipe do CN Notícias)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Bento XVI sobre a parábola dos talentos: não usá-los seria faltar com a finalidade da própria existência


Cidade do Vaticano (RV) - No Evangelho de hoje – a parábola dos talentos – Jesus nos convida a refletirmos sobre os dons que recebemos e sobre como usá-los para o crescimento do Reino de Deus.

Foi o que ressaltou Bento XVI ao meio-dia deste domingo, no Angelus, acrescentando que a Palavra de Deus nos exorta à sobriedade, à vigilância e a uma vida cristã ativa e diligente.

Na célebre parábola dos talentos Jesus fala de três servos aos quais o patrão – recordou o Papa –, antes de partir para uma longa viagem, confia seus recursos. Dois deles fazem frutificar os bens recebidos. O terceiro servo, ao invés, cavou um buraco na terra e escondeu o talento. Voltando para casa, o patrão se compraz com os dois primeiros servos e fica desiludido com o terceiro:

"De fato, aquele servo que manteve o talento escondido sem valorizá-lo, calculou mal: comportou-se como se o seu patrão não tivesse que voltar, como se um dia não tivesse que prestar conta de sua ação."

O talento – acrescentou o Pontífice – não pode ser separado da missão confiada pelo Senhor a cada pessoa:

"Com essa parábola, Jesus quer ensinar os discípulos a usarem bem os seus dons: Deus chama todo homem à vida e lhe dá talentos, confiando-lhe, ao mesmo tempo, uma missão a ser cumprida. Seria procedimento de um insensato pensar que esses dons lhe são próprios, bem como renunciar a utilizá-los seria faltar para com a finalidade da própria existência."

Bento XVI recordou o comentário de São Gregório Magno à página evangélica dos talentos:

"Ele escreve: "por isso é necessário, meus irmãos, que tenham todo cuidado na custódia da caridade, em toda ação que devem realizar" (Homilias sobre os Evangelhos, 9,6). E após ter precisado que a verdadeira caridade consiste no amar tanto os amigos quanto os inimigos, acrescenta: se alguém não tem essa virtude, perde todo bem que possui, é desprovido do talento recebido e é jogado fora, nas trevas."

"A caridade – observa o Papa – é o bem fundamental que ninguém pode deixar de frutificar e sem o qual todo outro dom é inútil." "Somente praticando a caridade também nós podemos tomar parte da alegria do nosso Senhor."

A parábola deste domingo "nos adverte acerca do caráter provisório da existência terrena e nos convida a vivê-la como uma peregrinação", mantendo o olhar voltado para a meta, "aquele Deus que nos criou e, como nos fez para si (cfr S. Agostinho, Conf. 1,1), é o nosso destino último e o sentido do nosso viver".

Dito isso, o Santo Padre acrescentou:

"A morte é passagem obrigatória para alcançar tal realidade definitiva, seguida do juízo final. O Apóstolo Paulo recorda que "o dia do Senhor virá como um ladrão de noite" (1 Ts 5,2), ou seja, sem aviso prévio. A consciência do retorno glorioso do Senhor Jesus nos impele a viver numa atitude de vigilância, esperando a sua manifestação na constante memória da sua primeira vinda."

Após a recitação do Angelus, saudando os peregrinos de língua francesa, o Pontífice confiou a viagem que de sexta-feira a domingo próximos fará à República do Benin – África Ocidental – à oração dos fiéis, bem como os esforços daqueles que no continente trabalham pela segurança das populações, a reconciliação e a paz.

Bento XVI também recordou que neste domingo se celebra o Dia Mundial do Diabetes, doença crônica que aflige muitas pessoas. "Rezo por todos esses irmãos e irmãs – disse o Papa – e por aqueles que partilham a sua faina diária."

O Santo Padre concedeu, a todos, a sua Bênção apostólica. (RL)